sexta-feira, 3 de abril de 2015

Passeio - Restaurante Grego Acrópoles no Bom Retiro/São Paulo





Era um domingo de março, nublado e chuvoso. Planejamos um passeio com café da manhã no Café Girondino, visita ao antigo Edifício Martinelli e almoço no restaurante grego Acrópolis. 

Acrópolis, no toldo do restaurante (vide foto mais abaixo) ou Acrópoles, no site?

Eu estava bem satisfeita com este planejamento, pois tudo estava absolutamente dentro do meu gosto.

Estacionamos o carro na Rua Líbero Badaró e eu já estava contemplando o centro velho de São Paulo, lembrando de uma época em que trabalhei numa empresa na Praça da República. Tempos maravilhosos da minha lenda pessoal, década de 80 e eu estava concluindo a faculdade. 

O centro velho de São Paulo trouxe muitas lembranças da minha mamma, que trabalhou na rua Boa Vista, na década de 50, no Branco da Província do Rio Grande do Sul, hoje extinto. Então, eu ouvia muitas histórias que ela contava e uma delas era a descrição do Largo do Anhangabaú. Ela contava que era um lindo jardim francês, muito bem cuidado e frequentado. Contava também sobre os bondes, de como as pessoas eram educadas e andavam bem arrumadas pelas ruas.     

Nesta foto, minha mãe é a do meio, com duas amigas do banco: 


Como eu gostaria de tomar novamente um café com a minha mamma, mas em um café bem tradicional. Ela iria pedir um café sem açúcar e uma empadinha com creme de palmito. Todos os dias celebro com ela quando tomo o meu cafezinho no final da tarde, mas nem sempre com empadinha kkkk. 

Chegamos ao Café Girondino, na Rua Boa Vista, e na vitrine havia uma única empadinha e de creme de palmito. Era minha, claro, estava me esperando.

Salute Mamma!

"Mamma son tanto felice
Perche retorno da te
La mia canzone ti dice
Che il piu bel giorno per me
Mamma son tanto felice

Mamãe, eu estou tão feliz
Porque estou voltando para você
A minha canção te diz
Que é um belo dia para mim
Mãe eu estou tão feliz"

 Bravo Pavarotti ...  



O Café Girondino existe no centro velho de São Paulo deste o início do século XX. Hoje além de ser um café tradicional, aconchegante e charmoso, é também restaurante e bar.  

Basta atravessar a rua e a poucos passos, estará bem em frete ao Mosteiro de São Bento. Sim, já assisti algumas vezes a missa com cantos gregorianos e enfrentei a fila para comparar os belos pães e bolos artesanais feitos pelos mongesMas isso foi em outros tempos ... 

Duas fotos internas do Café Girondino: 



Terminamos o nosso cafezinho e fomos direto para o Edifício Martinelli, a pé mesmo. Tudo bem pertinho.  

Chovia para usar guarda-chuva e o que aconteceu? O funcionário do Martinelli não deixou que subíssemos, por conta da chuva. Preciso falar como eu me senti? kkkkk ai que moço chato! 

 

A visita, que não aconteceu (em outro dia aconteceu e está tudo aqui, acesse) é acompanhada por um funcionário, para conhecer o edifício, a história e ver a vista de São Paulo. No térreo do Martinelli tem o Café Martinelli- Midi, eleito pela Revista VEJA SP, por três anos consecutivos, como o melhor Café da cidade. Também é restaurante, com pratos típicos de bistrot.  

"O primeiro arranha céu da América Latina, o Edifício Martinelli está localizado no centro de São Paulo entre as ruas São Bento, Av. São João e a Rua Libero Badaró 

O Edifício foi projetado pelo seu idealizador, o italiano Giuseppe Martinelli, em 1924 e simbolizou progresso da cidade. Mais de 600 operários trabalharam nas obras. A construção foi iniciada em 1924 e a inauguração aconteceu em 1929, com 20 andares. 

Com o passar dos anos, novos pisos complementaram a construção. O objetivo de Martinelli, contudo, era chegar aos 30 andares. A obra gerou muita polêmica, pois até então não havia nenhum prédio em São Paulo com grande altura. Na época, edifícios com mais de 10 andares eram considerados muito altos. 

Atualmente, o prédio é um dos principais símbolos arquitetônicos do Brasil, já foi ponto de encontro da alta sociedade paulistana. Por lá já passaram o Cine Rosário, barbearias, lojas, uma igreja e o luxuoso Hotel São Bento.



O prédio ainda em construção nos anos de 1920. Acervo Estadão

Fomos então dar uma voltinha no Mercado da Cantareira para passar o tempo, fazer umas comprinhas e ver o mundo gastronômico de São Paulo, com cores, sabores, aromas ... não dei bola para o famoso pastel de bacalhau, pois o almoço no restaurante grego Acrópolis prometia. 

Chegamos ao Acropólis (a foto com o toldo), na Rua da Graça, no bairro do Bom Retiro, com muita tranquilidade, pois como sabem, trânsito em São Paulo não tem dia, hora e nem feriado. 


O local é bem simples, antigo e apertado. Existe desde 1959. 

Pressa não existe, portanto, esqueça o relógio. 


Como chegamos cedo, algumas pessoas estavam do lado de fora conversando com o 'Seu Trasso', como é chamado aqui no Brasil. Ele é o proprietário e tem quase cem anos, seu nome é Thrassyvoulos Georgios Petrakis.

Ele está acostumado a tirar fotos, escolheu até o local do restaurante para a nossa pose.  


'Seu Trasso' é super simpático, extremamente calmo, como os habitantes do mediterrâneo e adora uma conversa.

Viúvo, disse que casou pela segunda vez. Tem 98 anos, muito ativo e em pleno comando do restaurante. 


Perguntei para ele onde nasceu e, curiosamente, ele me disse que nasceu em Esmirna, na Turquia, e que foi com o pai de barco para a Grécia.

“Eu nasci na cidade de Esmirna, na Turquia, e vivi lá até a idade de dois anos; mais ou menos dois anos. Depois meus pais se mudaram dali e nós passamos a morar numa ilha do mar Egeu que se chama Laos. Meu pai sustentava nossa família trabalhando como pescador; isso lá pela metade dos anos 20. Ele tinha um barco nessa época e ia pescar na Turquia junto com um primo. Era proibido, mas volta e meia eles entravam com o barco no mar turco. Uma vez ele me contou que os turcos pegaram, e ele e o primo sofreram um pouquinho. Ficaram uns dois, três dias presos na Turquia, mas depois foram liberados. Minha infância foi toda nessa ilha: eu ajudava meu pai na pescaria e, de vez em quando, também ia com ele vender os peixes. Eu cresci cercado de peixes. Quando era menino, na minha casa, carne entrava só duas vezes por mês. Já peixe era todo dia: peixe frito, ao forno. Alguém pode achar ruim, mas eu não achava. Para mim, era uma maravilha! Até hoje peixe é o meu prato preferido. Era uma vida tranquila, mas então minha mãe morreu e, como eu era o filho mais velho, tive que deixar a escola de vez para ajudar meu pai. Nós mudamos, então, para o centro da ilha, porque lá era um lugar com mais recursos para viver. Depois, um pouco mais velho, eu ainda trabalhei na loja de um conhecido dele, do meu pai. Eu teria continuado lá, só que, aos 19, 20 anos, fui convocado para o Exército. Foi justamente na época da Segunda Guerra Mundial, mas eu não lutei no front. Eu era enfermeiro, só ficava no hospital cuidando dos feridos. Depois da guerra, cheguei a trabalhar numa quitanda com meu irmão, Niko. Outra vez vivemos muito bem, graças a Deus, e eu me casei. Aí foi quando aconteceu a mudança para o Brasil. Essa minha mulher tinha uma irmã que vivia em São Paulo, e essa irmã ficou sabendo do nosso casamento. Ela escreveu uma carta para a minha mulher e reclamou que não tinha recebido o convite. A minha mulher falou, então, para mim: ‘Olha, ela quer que nós viajemos para o Brasil. Vamos?’‘Vamos! Por que não? Essa minha cunhada tinha una lojinha que vendia miudezas no Jardim Tremembé. O marido dela também era comerciante: tinha uma adega que vendia diversos vinhos, bebidas. Nós viemos, fomos ficando, fomos ficando e eu comecei a ajudar no serviço, mas quando passou uns quatro, cinco anos, eu precisava ganhar dinheiro, porque minha filha tinha acabado de nascer. Foi aí que eu decidi ser garçom. Como eu ainda não falava português direito, procurei um restaurante do Bom Retiro que, na época, se chamava Cantinho Grego; hoje ele é conhecido como Acrópoles.”
Fonte Museu da Pessoa

Ele é 'professou doutor' em marketing e o filho é o responsável pela filial do Acrópolis na Rua Haddock Lobo, no Jardins, São Paulo. 

'Seu Trasso' é um caso típico de lenda que virou mito. 


Logo indicou uma mesa para sentarmos e disse que não poderíamos deixar de provar a entrada. Assim que arrumou o pratinho da entrada na nossa mesa, regou com azeite abundante, como fazem os habitantes do mediterrâneo.

 Especialidades da entrada: 

coalhada seca,
tzatziki - coalhada seca com pepino,
melitzanosalada - patê de berinjela assada,
polvo a vinagrete,
cebolinha em conserva. 


Acompanhou uma cesta com dois pãezinhos caseiros, deliciosos. 

Na foto que segue, o 'Seu Trasso' está 'mediterraneamente' regando o mesmo pratinho de entrada, mas da mesa ao fundo. De brinde, o sorriso do maridex. 


Depois de degustar, sem pressa, esta entradinha deliciosa, com um polvo super macio - eu adoro polvo, comeria todos os dias - fomos para a cozinha, para um balcão, onde do outro lado estão todos os prato do dia.

O cardápio do dia é informado pelo cozinheiro, você escolhe, ele faz o prato na sua frente e o garçon leva para a sua mesa. 


Alguns pratos que me lembro: carneiro assado com batatas, carneiro com molho e alcachofras, charuto de repolho, moussaká tradicional, moussaká com frutos do mar, pato, camarão a parmegiana (não entendi muito bem este prato), lula recheada com risoto de frutos do mar, polvo ao vinho, risoto de frutos do mar, etc. 

O Acrópolis não tem cardápio de mesa. Na parede do salão próximo as mesas, há um grande cardápio fixado na parede.

Os pratos que pedimos, acompanhados com vinho tinto:



Polvo com molho de tomate, ervas, cebolinha, cravo, canela e vinho branco.
Lula recheada com lula picadinha, ervas finas e arroz. 
Acompanhamentos: risoto de frutos do mar para o maridex e batatas para mim. 

Adoro tudo que é do mar, mas não pedi o risoto de frutos do mar, pois não gostei da carinha dele! E o maridex confirmou que não era só a carinha, o sabor não era bom.

Eu acho que as comidas que ficam aquecidas muito tempo, não ficam interessantes. Ainda bem que chegamos cedo. 

Aqui o prato do maridex com o polvo, a lula e o risoto: 



O meu prato, sendo que o risoto eu substitui por batatas: 



O polvo estava espetacular! Macio, saboroso, pouquíssimo sal e as especiarias cravo e canela deram um show a parte combinando com o molho de tomate, bem leve ... para salivar mesmo. Os pedaços de polvo eram maravilhosos em todos os sentidos, tamanho, textura. A cada mordida, eu sentia na boca as surpresas do cravo e da canela. Magia pura!  

As batatas estavam deliciosas, com um sabor bem suave. Bacanas até no tamanho e não estavam molengas. 

A lula eu não gostei. Fiquei muito decepcionada com o recheio (lula picadinha, ervas finas e arroz) praticamente sem sabor. Ficou no prato. 

Outra coisa, os pratos são muito bem servidos. Realmente muita comida! O que não é nada bacana.



Concluindo: um local diferente, aconchegante, onde a lenda virou mito, mas que é preciso planejar muito bem o que pedir, pois os pratos são bem servidos. 

Comida em quantidade exagerada não faz um prato inesquecível. 

Chegar cedo, no meu ponto de vista, é importantíssimo, já que a comida fica disposta na cozinha, em uma bancada aquecida.

A entrada e uma salada grega com queijo feta ou fetta é o meu número. Punto e basta! 

O meu prêmio foi para o polvo em primeiríssimo lugar. Nunca havia provado polvo com especiarias, cravo e canela. Um encanto. A entrada em segundo lugar, refrescante, leve, muitos sabores. 

Não pedimos café e nem sobremesa. 

Terminamos o dia em uma livraria, com água e um delicioso café expresso. 






3 comentários:

  1. .. viajei na sua viagem Maria Glória, adorei o relato, com todos os detalhes, no início de maio15 estarei em São Paulo, quem sabe, se der tempo vou tomar um café expresso neste café. Depois eu lhe conto.
    saudações
    guido lunardini

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    1. Bom dia Guido.
      Este Café vale mesmo uma visita.
      São Paulo é uma cidade com muitas histórias dentro de histórias ... já pensou se preservada e respeitada como as cidades européias? Luxo!
      Beijo chef.

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  2. Olá Maria Glória e Dom Luiz, como estão e como foi a viagem?
    O Edifício Martinelli é a cara de São Paulo, lindo e histórico.
    Gostei de ler a história do Grego Trasso, muito bem descrita, com uma dose de saudosismo.
    Duas coisas que seguem caminhos diferentes, uma é relacionada com o Banco Pelotense, que não é citado em teu post, mas muito tem a ver com minha vida, pois meu avô materno foi a falência junto com este banco que foi fundado em 1906 e que com a quebra da Bolsa de Nova Iorque fechou as portas por ter todo o capital imobilizado, ou seja, o banco investia em terras, terrenos e prédios e quando precisou de dinheiro ninguém comprava ou vendia, levando o banco à falência, a segundo refere-se ao citado banco da Província do Rio Grande do Sul, séria instituição bancária que foi a falência pela gestão fraudulenta durante o regime militar. Conheci e servi juntamente com Coronéis que levaram o banco a uma situação de insolvência. Porém isto a história não registra.
    Na parte gastronômica, adorei a quantidade dos pratos, além de ser amante de frutos do mar gosto de apreciar coisas inusitadas. Porém sempre me chamou a atenção um prato típico brasileiro que se chama “arroz a grega”, pois apesar do nome não há na Grécia tal prato, uma coisa inventada por alguém que não tinha um nome para tal prato e o apelidou de grego. Aliás, sempre é bom lembrar que quando ouvimos alguém falar uma língua que não seja o português ou espanhol, dizemos que é coisa de “gringo”. Gringo em um antigo dicionário de Portugal, provavelmente do século XVII ou XVIII, diz que gringo é uma corruptela de griego ou grego. Por outro lado, pelo menos aqui no RS chamam os italianos de gringo, porém em toda a América Latina gringo é um estrangeiro que não seja português ou espanhol.
    Gostei das fotos, todas e Dom Luiz, de braços cruzados esperando o seu bem merecido prato.
    Gente amada de Sampa, uma grande abraço e não gosto de futebol, mas sou Croácia desde que nasci. KKKK

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